Então. Tem horas que a
gente precisa refletir.
Como estou lidando com
tudo isso?
Confesso que em certos
momentos, pensei: “Não acredito! Essa merda de novo! Sou eu mesma? Sério?
Câncer? De novo? Ãh?”. Deu-me certa aflição de pensar em viver tudo de
novo. Questões como será que meu cabelo vai cair, se vou engordar, se vou
ficar “louca” de novo, entre outras, ficam rondando a nossa mente por um bom
tempo.
Como marinheira de
primeira viagem, em certos momentos tive medo do que poderia enfrentar, mesmo
sem saber ao certo o que viria pela frente. Agora, no segundo diagnóstico,
cheguei a ter pena de mim mesma e o medo aumentou, pois dessa vez, sabia
exatamente com “quem” estava lidando. Nessa nova jornada bateu um frio na
barriga. Desde que me descobri doente pela primeira vez, leio, estudo, tento
saber ao máximo tudo relacionado ao câncer, gosto de estar bem informada e
acaba que nos tornamos quase “especialistas” no assunto. Hoje já conheço a
doença, já convivi com ela, já conheço o meu corpo, sei os meus limites,
aprendi (ou não..rs) a lidar com meu psicológico e a respeitá-lo. Tento ser calma,
fazer tudo no meu tempo e respeito os meus limites e desejos.
O que eu aprendi até
agora?
Aprendi que ter paciência
é a chave para o sucesso. E que a ansiedade é nossa inimiga número um, pois é
ela que te agonia, que te faz acelerar as coisas, que faz com que você queira
passar por tudo isso logo, acabar finalmente os tratamentos, e assim ela vai,
te atropelando. Dessa vez estou tentando trabalhar bem a ansiedade, aliás, acho
que comecei a aprender a lidar com ela há cerca de 6 anos atrás, e hoje, posso
dizer que tento controlá-la ao máximo.
Aprendi também a me
respeitar acima de tudo. Aprendi a ouvir o meu silêncio, o silêncio da
minha alma, do meu interior, da minha paz interior. O silêncio interior
gera o sentimento de confiança, equilíbrio e de paz, que só pode ser encontrada
no interior de cada um de nós. Eu preciso do silêncio comigo mesma. Este é meu
câncer, meu carma, minha vida, minhas descobertas, meu momento de crescer e
aprender, minha evolução pessoal, meu momento de reflexão, superação e
renovação, meu momento de ter mais fé e ser mais forte. É difícil explicar o
que estou passando ou sentindo. Uma hora você está feliz, meia-hora depois
triste, depois chora, depois ri. A gente vive em altos e baixos, dias bons e
dias ruins. Há dias que não se tem vontade de dizer uma palavra, ou ver
ninguém, nem se olhar no espelho. E eu me respeito.
Desta vez quis ficar mais
reservada, viver o que eu tinha que viver comigo mesma. Resolvi me preservar
mais e não expor para muitos o retorno da minha doença. Porém, agora, me sinto
mais à vontade em lidar com a situação e acredito que a informação deve ser
passada, para principalmente, alertar mais mulheres sobre o câncer de mama e o
risco de recidivas. Quanto mais a notícia corre, mais pessoas podem se prevenir
desse mal.
Aprendi que a família é
nosso maior tesouro. São eles que estão ali do seu lado, dia e noite, na
alegria e na tristeza, na saúde e na doença. Não tenho palavras para expressar
meu sentimento de gratidão e alegria ao ter meu marido, meus pais e irmãos ao
meu lado sempre, todos se revezando para estarem comigo nos pós-químios,
mudando suas rotinas. E aproveito para agradecer também o carinho e preocupação
de minhas tias e primas em especial, que não deixaram de enviar palavras de
apoio e carinho, além de algumas pessoas amigas e parentes muito queridos.
Aprendi que existe amor
ao próximo. Aprendi que existem pessoas que nem te conhecem ou que acabaram de
te conhecer, e que, com o coração cheio de amor, fazem orações, desejam e nos
oferecem suas melhores energias, e ainda nos presenteiam com gestos e palavras
de carinho, demonstrando que ainda existe amor no mundo.
Aprendi também que tudo
passa. Que os momentos ruins vão virar momentos de aprendizagem e os bons
virarão boas lembranças. E que por mais que esteja difícil hoje, amanhã pode
ser melhor. Vamos dar tempo ao tempo.
Aprendi que temos o livre
arbítrio todos os dias e que podemos escolher sofrer com a dor ou sentir dor
sem sofrer. Pois “a dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional”. Escolhi não
sofrer. Mas tem dias que eu digo sim: FODA-SE! Vou gritar, vou chorar e
FO-DA-SE!
Aprendi a me desprender
de coisas e pessoas que não me acrescentam, a me aborrecer menos e viver mais.
Viver o que eu gosto de viver, curtir quem eu amo e o que amo, fazer as coisas
que eu mais gosto na vida. Pois já temos muitos problemas que não podemos
escolher viver, o que se resume naquela velha frase: “o segredo da felicidade é
escolher a comédia e largar o drama”. O drama já existe, não? Então, vamos
sorrir!
Conselho para evitar uma
recidiva?
Tenha atenção! A qualquer
sinal diferente em seu corpo, procure seu médico. Nódulo sólido, como no meu
caso, principalmente. Procure verificar o que está diferente no seu corpo e
investigue sempre. Se eu pudesse voltar um pouco, talvez tivesse pedido para
minha mastologista retirar o nódulo enquanto ele ainda era suspeito de ser
apenas um lipoma. Não sei se adiantaria alguma coisa, mas temos que correr
antes dele. E não podemos esquecer que cada caso é um caso. Então, apenas
fiquem de olho atento!
Por enquanto, sigo para
minha última químio (12ª de taxol), que vem de presente de aniversário, dois
dias antes de eu completar meus 36 anos. Ainda vai ter radioterapia e
hormonioterapia. Mas acho que de químio, tá bom, né?
Ainda continuo odiando a
touca hipotérmica, mas não dá pra desistir no final, os primeiros cinco minutos
de dor passam rápido e está valendo à pena no sentido de que ainda tenho uns
50% fios de cabelo na cabeça. E ainda é melhor deixar o cabelo encher (ter
volume) novamente do que deixar crescer a partir de uma cabeça careca. Mas se
você não está a fim de se sentir incomodada durante as químios, não liga tanto
assim para os cabelos, vai agüentar ver o cabelo crescer ou se quiser se sentir
mais livre, não use a touca. Mas se você não quiser ficar careca e acha que
suporta tranquilamente estes minutinhos de incômodo durante as sessões, use a
touca. Eu recomendo.
Nas fotos estou usando a
touca durante a QT, ganhando beijo da mami, depois mostro como a touca fica
congelada e como está meu cabelo molhado em cima. Inclusive já está mais ralo que
isso, e branco, cheio de fios brancos.
Por aqui continuamos em busca de paz, de
uma vida mais saudável e ao mesmo tempo sustentável, para ter mais saúde e
viver mais. No mais, ando muito cansada. Mas sei que passa. Vou respeitar meu
tempo.