quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

5 anos depois...uma recidiva


Pois é! 5 anos depois, uma recidiva.

Vou contar tudo...

Na verdade, notei um carocinho pequenino, palpável, bastante firme localizado na mama mastectomizada em meados de março. Para ser mais exata, o nódulo estava bem no limite da cirurgia de mastectomia. Fizemos uma ecografia que sugeriu um lipoma localizado às 10 horas na região subcutânea da mama direita. O lipoma seria um acúmulo de tecido adiposo, caracterizado como uma alteração benigna, comum em áreas que sofreram com cirurgias. Três meses depois, partimos para a ressonância das mamas. Nada foi visto. Nem ao menos o carocinho que eu sentia quando apalpava a área. Por isso a importância de se fazer vários exames diferentes de imagens, pois o que um não vê, o outro pode ver. E ele ficou lá até setembro, quando notamos um pequeno crescimento e fomos tirar a prova com mais uma ecografia, juntamente com a mamografia. Na primeira, BI-RADS US 4B, e na segunda, BI-RADS US 4C, ou seja, os dois com suspeita de malignidade. Foi difícil detectá-lo na mamografia, mas depois de muita “manobra” conseguimos achá-lo e ver que realmente havia modificado de tamanho.

Fizemos a excisão cirúrgica no dia 15 de outubro, com anestesia local e sedativo, saí no mesmo dia. No outro dia, meu maridinho também foi submetido a uma cirurgia no joelho esquerdo da qual teve que reconstruir o ligamento cruzado anterior, fazer uma artroscopia no menisco e ainda uma raspagem na cartilagem. Em casa era um ajudando o outro. Eu não podia mexer o braço e ele a perna..rs.

Alguns dias depois minha mastologista me ligou me contando sobre o diagnóstico. O que eu temia estava acontecendo: uma recidiva. O anatomopatológico indicou Carcinoma ductal infiltrante de alto grau (grau 3 de nottingham). Fiquei meio absorta por alguns segundos e logo desabei para o meu marido que estava olhando pra mim enquanto eu falava com ela ao telefone. O susto passou logo. Depois veio um medo. Medo do que estava por vir, do incerto, de metástase, de sei lá o quê, de estar acontecendo de novo, da morte... sim! Pela primeira vez senti um frio na barriga em pensar que é assim que essa doença faz. Ela nos pega sempre “desprevenidos” (claro! Ninguém está preparado nunca. Nem para um primeiro e nem para um segundo, terceiro, quarto diagnósticos...), surge em algum lugar dentro do seu corpo, depois vai se espalhando e um dia ele (o corpo) não agüenta. Aí você deixa para trás sonhos, amores, saudades, vazios. Dessa vez senti este medo. Pois isso quer dizer que existe um monstrinho pronto para explodir dentro de mim, ou seja, essa predisposição genética a desenvolver o câncer existe, de fato, em mim.

Sempre me preocupei muito com a mama esquerda, a mama sadia, pois vira e mexe aparece algo suspeito por lá. Porém, o bichinho estava escondido era na direita mesmo. A recidiva foi local, surgiu no mesmo local de origem. A mama mastectomizada nunca é 100% removida e algumas células podem ter sido liberadas no tumor primário.

Na oncologista, conversamos sobre o tratamento. Da primeira vez, meu tumor foi classificado como – triplo negativo (ou basal-símile) – tipo de tumor que é normalmente agressivo, não é receptor de estrogênio e de progesterona, e negativo a proteína HER2. Por este motivo é um tipo de tumor que não se conhece bem, não se sabe ao certo como ele agirá e como responderá aos tratamentos. Desta vez, as características do novo tumor eram diferentes. Deu positivo para os receptores hormonais, sendo neste caso, considerado o subtipo molecular – luminal B. 

A partir desses dados pode-se começar definir um tratamento, porém, por diversos motivos, a quimioterapia ainda não estava definida no meu tratamento e por recomendação médica, optamos por fazer um teste chamado ONCOTYPE DX. Este teste de expressão gênica é realizado somente nos Estados Unidos (o material é enviado ao laboratório por meio de representantes aqui no Brasil) e consegue avaliar 21 genes relacionados ao crescimento e proliferação dos tumores de mama. Ele é utilizado principalmente para orientar a tomada de decisão em relação ao tratamento quimioterápico, além de avaliar a probabilidade de recidiva em aproximadamente dez anos. Demoramos um pouco para levantar a grana ($ 4.610,00 – cerca de R$ 12.000,00) para realizar o teste, que com ajuda da minha família (tias, tios, primos e primas – que me fizeram uma surpresa arrecadando entre eles a metade do valor) foi bem mais rápido. Mas o que demorou mesmo foi a burocracia para se fazer uma transferência bancária internacional... aff...

O resultado do meu teste não foi dos melhores. Ele revelou que possuo 37% de risco de recidiva e ainda estou incluída no grupo de alto risco. A boa notícia é que o teste mostra um bom prognóstico após o tratamento de quimioterapia associado ao uso do tamoxifeno (hormonioterapia), do qual essa taxa cai para cerca de 10%.

Já iniciei os ciclos de quimioterapia, até o momento já fiz três sessões e já temos uma quarta marcada (19/02/15). No meio disso tudo ainda tive que travar uma pequena batalha judicial com meu plano de saúde (SulAmérica – falo mesmo!) que por meio de uma liminar consegui continuar o tratamento recomendado pela médica. Absurdo! Tentaram cancelar parcialmente meus medicamentos com a alegação de que não tinham indicação para minha patologia. Hahaha... Como assim? Não tem indicação? Oi? Onde os médicos da SulAmérica estão fazendo esses estudos? Nem acreditei direito, parece absurdo, e é. Passei um dia inteiro na Defensoria Pública, foi cansativo, tive total apoio e auxílio dos meus primos advogados e graças a Deus deu tudo certo.

Agora vamos esperar as químios acabarem, seguir para rádio (que depende da avaliação do radioterapeuta ainda, pois não se pode fazer rádio no mesmo local duas vezes) e tratamento hormonal com o tamoxifeno. Fiz um PET-CT (corpo zerado, amém!), outra biópsia guiada (mamotomia) por ressonância na mama esquerda (temos que continuar de olho nela também), ecografias e tomografias.
E assim a vida segue, ela não pode parar. Vamos apenas incluir o tratamento na vida diária e seguir em frente. Os planos e sonhos continuam e estou correndo atrás deles. Sou muito grata a Vida pelos ensinamentos diários, a Deus por me permitir vivê-la e estar aprendendo. Sou grata ao meu maridinho lindo que está sempre ao meu lado em todos os momentos (meu amor, meu cúmplice, meu parceiro, que a cada dia que passa fico mais apaixonada e mais feliz ao seu lado), a minha família – meu pai, minha mãe (minha companheira de todas as horas) meus irmãos, que se desdobram para me auxiliarem, me apoiarem e me deixarem tranqüila – as minhas tias, tios, primas e primos que não medem esforços para me verem feliz e curada, toda hora demonstrando apoio e carinho – minha vovozinha sempre cuidadosa e preocupada – e as minhas amigas e amigos, que são poucos, mas verdadeiros.


Eu e maridinho estamos morando ”na roça” e foi a melhor coisa que fizemos neste momento (apesar de eu ter feito a primeira químio numa quinta-feira e mudado num sábado - #nãorecomendo#éloucuratotal). Aqui encontro a paz que preciso para me recuperar. Da primeira vez, quando eu queria fugir, fugia pra cá. Agora eu moro aqui! Piso na grama, olho pro céu, olho pro verde, abraço uma árvore, corro e brinco com meus cinco cachorros (ás vezes sete cachorros, quando meus sobrinhos de quatro patas vêm nos visitar), acordo vendo araras e tucanos passando pela minha janela, sinto o cheiro do mato molhado pela chuva, sinto o cheiro da tranqüilidade, da paz e da saúde.